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Arte Mike O'Dwyer

Nuada: um exemplo de liderança e gestão

Os deuses celtas, com suas características e emoções intensas, eram tão humanos quanto divinos, e entre eles poucos carregaram o peso do destino de seu povo como o “Braço de Prata”. Mais que um guerreiro, ele foi um líder cuja história nos ensina sobre coragem, honra e humildade – virtudes eternas para quem conduz uma comunidade, uma família ou até mesmo uma empresa. Aqui veremos como ele personifica o que nomeamos como 9 virtudes essenciais para qualquer liderança.

Na chegada dos Tuatha Dé Danann à Irlanda, Nuada tentou evitar o conflito oferecendo um acordo aos Fir Bolg. Com a recusa, liderou a Primeira Batalha de Mag Tuired contra o rei Éochaid, empunhando a lendária Claíomh Solais – a espada que jamais falhava. Mesmo afastado do trono após perder o braço, ele retornou com determinação para enfrentar os Fomorianos e, com Lugh, derrotar Balor, o Olho da Morte.

A Verdade

Nuada foi guiado pela verdade em cada passo – desde as negociações até as guerras que asseguraram a soberania dos Tuatha Dé Danann sobre Ériu. O que começou, ele terminou, sem jamais se omitir ou trair seus princípios.

A Claíomh Solais simboliza essa verdade: uma lâmina que corta ilusões e revela o real, ainda que isso exija longas batalhas. Na liderança, a verdade é o norte inabalável; sem ela, tudo se desfaz.

Honra

A honra de Nuada brilhou intensamente. Até Morrígan o reconheceu digno, unindo-se a ele antes da vitória em Moytura. Mais tarde, ao perder o braço, abdicou do trono com integridade, pois sabia que um rei deve ser inteiro – no corpo e no espírito.

Hoje, a hipocrisia e a desonra enfraquecem líderes. Manter-se honrado é um desafio, mas essencial. Começa em ser fiel a si mesmo antes de se estender ao outro e à comunidade.

Justiça

Ser justo não é tratar todos iguais, mas dar a cada um o que lhe é devido. Demonstrou isso ao tentar evitar a guerra, ao defender seu povo no campo de batalha e ao reconhecer Lugh – o jovem da profecia – como líder de guerra.

Um líder injusto mina a confiança e perde aliados. Justiça exige discernimento para ver dons e limites de cada pessoa e colocá-las no lugar certo para que floresçam.

Lealdade

Nuada jamais desviou o coração de seu povo. Mesmo afastado durante o reinado de Bres, permaneceu fiel ao propósito e, quando recuperou o braço humano, voltou ao trono para liderar uma segunda guerra, mesmo sabendo o custo. Seu povo o seguiu em duas batalhas terríveis; só um líder realmente amado conquista tamanha lealdade.

Ser leal é não se desviar daquilo em que se acredita. É o fio que une líder e liderados em confiança mútua.

Coragem

Liderar duas guerras já seria tarefa para poucos, mas ao enfrentar sozinho o rei Fir Bolg para poupar vidas, Nuada mostrou o coração de um verdadeiro líder.

Também é coragem entregar o trono a alguém mais apto, confiando que Lugh poderia guiar o povo à vitória. Liderar exige enfrentar os assuntos mais difíceis e encontrar soluções mesmo quando tudo foge ao esperado.

Generosidade e Hospitalidade

Nuada foi generoso até o sacrifício, doando a própria vida pela vitória em Moytura. Praticou hospitalidade ao ceder o trono a Bres – um fomoriano – e ao acolher Lugh entre os Tuatha Dé, reconhecendo nele o comandante que seu povo precisava.

Poucos líderes hoje mantêm essas virtudes. Abrir-se a novas pessoas e ideias fortalece. Liderar é acolher, é confiar que generosidade não enfraquece, mas constrói.

Força e Perseverança

Forte no corpo, mente e espírito, Nuada liderou mesmo após tantas perdas. Sua perseverança brilhou quando abdicou do trono por seu povo e retornou para derrotar Balor, mantendo-se fiel ao destino de Ériu. Mas, na guerra contra os Fomorianos, pagou o preço final: perdeu a vida como um verdadeiro rei, lutando até o fim pelo futuro de seu povo.

Essas virtudes sustentam qualquer liderança. Ser resiliente até o fim e reconhecer quando outro pode fazer melhor define a grandeza de um verdadeiro líder.

Conclusão – O legado de Nuada

Nuada não foi apenas um deus e um rei; foi o exemplo vivo de que liderar é servir. Coragem, verdade, lealdade, força – pilares que atravessam séculos. Seu mito nos lembra que um líder não domina: ele carrega o destino de todos com honra, sacrifício e amor pelo que protege.


Marcos Reis – Méaróg  Vate do LaG

BIBLIOGRAFIA

MOURA, Leoni. As Crônicas de Inis Fál: mitologia irlandesa comentada. 30 jan. 2021. Editora Dolmen.

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