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Belenos

No vasto mosaico cultural que caracterizou o mundo céltico sob o domínio romano, uma figura peculiar gozava de notável destaque: Belenus (latim)/Belenos (gaulês), o deus cujo culto se espalhou por diferentes regiões da Gália, do Nórico, da Itália setentrional e até, possivelmente, da Grã-Bretanha.  

A amplitude de sua veneração, bem como sua associação com aspectos solares e terapêuticos, fazem de Belenos uma das divindades mais enigmáticas do sincretismo galo-romano. Ele é usualmente identificado com Apolo, o deus greco-romano da luz, da cura e das artes. Sua origem e características, entretanto, apontam para uma personalidade autônoma, profundamente enraizada na espiritualidade céltica. 

Esse sincretismo pode ser observado já nas fontes antigas. O poeta e retórico Ausônio, natural de Bordéus e ativo no final do século IV EC, testemunha a permanência de tradições druídicas mesmo em círculos culturalmente romanizados. Em sua obra Commemoratio Professorum Burdigalensium (“Uma Comemoração dos Professores Universitários de Bordéus”), Ausônio menciona um colega e conterrâneo chamado Delfídio, descendente de uma linhagem druídica, cujo avô, Febício, servira como sacerdote num santuário dedicado a Belenos. Esse testemunho é valioso não apenas por registrar a existência de uma linhagem druídica em pleno contexto urbano e imperial (lembrando que o ministério druídico fora abolido pelo imperador Cláudio, no séc. I EC), mas também por atestar a longevidade e prestígio do culto a Belenos na Aquitânia. 

A associação de Belenos com Apolo não é acidental. Assim como seu equivalente romano, Belenos era visto como um deus que afastava doenças e promovia a cura. Sua presença é especialmente notável em regiões ricas em fontes termais, como Santa Sabina e Allerey, no território hoje conhecido como Côte d’Or (Borgonha-Franco-Condado, França). A ligação com águas quentes e curativas está no cerne de seu culto. Mas essa relação não é apenas utilitária — ela é simbólica: água e fogo/calor/Sol, cura e luz, regeneração e brilho formam pares conceituais que estruturam todo o imaginário em torno de Belenos.

De fato, o nome Belenos parece derivar de uma raiz *belo-, que significa “força, forte”, reforçando sua qualidade solar. Embora não seja possível afirmá-lo com total certeza, Belenos seria também a divindade associada ao festival gaélico chamado Beltane (1o. de maio), tido como celebração da fertilidade, mas que era na realidade uma cerimônia de proteção realizada pelos druidas, como se entende deste trecho do Sanas Cormaic: Belltaine .i. bil tene .i. tene soinmech .i. dáthene dognítis druidhe triathaircedlu (no cotinchetlaib) móraib combertis nacethrai arthedmannaib cacha bliadna cusnaténdtibsin [na margem esquerda: .[l]eictis nacethra etarru] (“Belltaine, isto é, bil tene, isto é, ‘fogo afortunado’, isto é, dois fogos que os druidas costumavam fazer com grandes encantamentos e eles costumavam trazer o gado como uma proteção contra as doenças de cada ano a esses fogos [na margem esquerda: costumavam conduzir o gado entre eles”]). O simbolismo é corroborado por epítetos como Atepomaros (ate-+-epo- +maros), “o que possui grandes cavalos”, conectando o deus à iconografia solar, onde cavalos puxam a carruagem do Sol. 

Mas Belenos não estava sozinho nesse panteão de deuses hidroterapêuticos. Várias divindades célticas compartilham esse vínculo com as águas e a cura, muitas vezes em associações locais e com nomes distintos. Boruo (ou Bormanus), por exemplo, é outro deus intimamente ligado às águas borbulhantes — seu nome significa literalmente “ferver” ou “borbulhar”. Seu culto aparece em regiões como o Vale do Loire, o Rhône, a Provença e os Alpes, frequentemente ao lado de Bormana, sua consorte. A presença dessas divindades revela a multiplicidade de expressões locais de um fenômeno cultual compartilhado: o das águas curativas como expressão do poder divino, união da água fresca que flui das profundezas com o calor do fogo solar. 

Outro nome associado à cura é Grannos, que aparece em inscrições e templos dedicados à prática da incubatio — a cura por meio de sonhos —, prática que também conhecemos dos santuários de Asclépio/Esculápio. Em locais como Alésia, Grannos é identificado como Apolo Moritasgos, e seu culto era marcado pela oferta de ex-votos — estatuetas representando órgãos doentes — como forma de apelo e agradecimento pelas curas recebidas. A função médica dos sacerdotes desses cultos é sugerida pela presença de instrumentos cirúrgicos, como aqueles usados para tratar catarata. 

Essa conexão entre cura e luz reaparece de modo inegável na figura de Vindonnos, divindade cujo nome evoca claridade e resplendor, e que é representado como deus coroado com raios solares em Essarois. Vindonnos também é vinculado a fontes curativas e à oferta de ex-votos oculares, indicando uma preocupação recorrente com doenças dos olhos. A própria frequência dessas oferendas sugere que doenças oftálmicas eram comuns e que os deuses da luz, de modo não surpreendente, tinham uma vocação particular para curá-las. 

A confluência entre água, luz e cura nos cultos célticos revela um sistema simbólico em que a regeneração física e espiritual era mediada por elementos naturais dotados de sacralidade. Essas deidades, embora muitas vezes identificadas com Apolo, não eram meros equivalentes provincianos do belo deus greco-romano. Cada um deles — Belenos, Borvo, Grannos, Vindonnos — carrega uma identidade própria, moldada pela paisagem das terras célticas, práticas específicas e nomes que evocam forças naturais ancestrais que apenas os nativos conheceriam. 

Por fim, vale observar que, apesar da diversidade de nomes e epítetos, certos padrões se repetem: 

  • a associação com cavalos,  
  • a associação com o fogo e a luz,  
  • a associação com fontes termais e  
  • a associação com práticas terapêuticas.  

A escassez de uma divindade universal em todo o mundo céltico não implica ausência de unidade simbólica e funcional. Pelo contrário, revela uma religiosidade profundamente enraizada no território, mas articulada por temas comuns — saúde, luz, calor e fluidez — que, em última instância, expressam a busca céltica por equilíbrio, vitalidade e conexão com as forças invisíveis da natureza. Tudo distante dos brutamontes que povoam as crônicas de tantos autores mediterrâneos. 

SELEÇÃO DE DEDICAÇÕES LATINAS A BELENOS 1. Aquileia (Gália Cisalpina / norte da Itália) 

CIL V, 873 

APOLLINI BELENO SACRVM L. CORNELIVS PROCVLVS VOTVM SOLVIT LIBENS MERITO 

(“A Apolo Belenus, Lucius Cornelius Proculus cumpriu seu voto de bom grado e com merecimento.”) 

CIL V, 873a 

APOLLINI BELENO ET FORTVNAE CONSERVATRICI SACRVM C. VALERIVS SEVERVS EX VOTO 

(“A Apolo Belenus e à Fortuna Conservadora, dedicado por Gaius Valerius Severus conforme voto.”) 

  1. Altinum (próximo a Veneza) 

CIL V, 8100 

BELENO AVG(VSTO) SACRVM. C. RVFVS SEVERVS VOTVM SOLVIT (“Consagrado a Belenus Augusto. Gaius Rufus Severus cumpriu seu voto.”) 3. Iulium Carnicum (atual Zuglio, Itália) 

AE 1937, 49 

APOLLINI BELENO L. FABIVS FELIX VOTVM SOLVIT LIBENS MERITO 

(“A Apolo Belenus, Lucius Fabius Felix cumpriu seu voto de bom grado e com merecimento.”)

  1. Nemausus (Nîmes, Gália Narbonense) 

CIL XII, 3070 (inscrição fragmentária) 

[…] BELEN[O] SAC[RVM] […] V(OTVM) S(OLVIT) L(IBENS) M(ERITO) (“[…] Consagrado a Belenus […] cumpriu seu voto de bom grado e com merecimento.”) 5. Panônia (atual Hungria / norte dos Bálcãs) 

CIL III, 10829 

DEO BELENO SEXTVS IVLIVS SEVERVS PRO SALVTE SVA ET SVORVM 

(“Ao deus Belenus, Sextus Iulius Severus [oferece esta dedicatória] pela sua saúde e de seus familiares.”) 

REFERÊNCIAS 

CHADWICK, Nora. The Celts. London: Penguin Books, 1997: Além disso, nomes atestados em mais de uma inscrição parecem ocorrer principalmente dentro de uma mesma área, e poucas dedicatórias individuais parecem ser amplamente distribuídas. Dedicações a Belenus são relativamente comuns e difundidas em partes da Europa céltica. Por outro lado, há pouca evidência de um deus comum a todos os povos celtas. Lugh era certamente conhecido no continente, na Grã-Bretanha e na Irlanda, mas é bastante excepcional. No continente e na Grã-Bretanha, seu nome ocorre apenas como um elemento em nomes de lugares e é desconhecido em inscrições. 

CIL – Corpus Inscriptionum Latinarum. Disponível na URL <https://cil.bbaw.de/en/homenavigation/the-cil/volumes>. Acesso em 18 abril 2025. 

GREEN, Miranda A. Sacred Britannia; the gods and rituals of Roman Britain. London: Thames & Hudson, 2018: O poeta e retórico Ausônio era gaulês, nascido em Bordéus, na Aquitânia, no início do século IV EC. Ele ocupava um alto cargo no Império Romano do Ocidente, tendo sido nomeado pelo imperador Valentiniano I como tutor de seu filho Graciano. Mas Ausônio passou a maior parte de sua vida profissional em sua cidade natal. Ele é uma figura de interesse aqui por ser autor de uma história da educação chamada Commemoratio Professorum Burdigalensium (“Uma Comemoração dos Professores Universitários de Bordéus”), obra na qual faz menção específica a uma dinastia familiar druídica. Um desses druidas chamava-se Delfídio, contemporâneo de Ausônio e colega na Universidade. Ele era neto de outro druida, Febício, que Ausônio afirma ter sido sacerdote no santuário da importante divindade gaulesa, Belenus, um deus da luz e da cura equiparado a Apolo, que desempenhava papéis semelhantes no panteão clássico. 

GREEN, Miranda A. The Gods of the Celts. Stroud, Gloucestershire: The History Press, 2011: O deus mais importante das águas termais na Gália era o Apolo céltico. Seu papel curativo é tão importante que merece uma discussão detalhada abaixo, e sua conexão com as fontes é vista, por exemplo, em Santa Sabina (Côte d’Or), que foi dedicada a Apolo Belenus e produziu diversas estatuetas de cavalos. […] Epona é outra deusa céltica associada a locais termais gauleses como Allerey (Côte d’Or). Ela é uma deusa-cavalo, e

vimos que o Apolo céltico é associado a esse animal, provavelmente como um símbolo solar. Apolo era um deus da luz e do sol, bem como da cura – seu nome celta Belenus (‘claro, brilhante’) ilustra isso – e veremos a seguir que a água e o simbolismo solar estão intimamente ligados nos cultos de cura. […] Belenus é o curandeiro celta mais comumente associado a Apolo e, novamente, é discutido em fontes literárias. Ausônio, um poeta de Bordéus que escreveu no final do século IV EC., menciona santuários para Belenus na Aquitânia e fala de um certo Febício que havia sido um sacerdote do culto. O nome Beleno tem uma imagem de luz, e a ligação com o brilho do sol é demonstrada também pelo nome de Febício – presumivelmente um nome adotado. Belenus era particularmente popular no sul e centro da Gália, no norte da Itália (Aquileia) e no Nórico; Tertuliano atesta o ramo austríaco (nórico) do culto, e Herodiano menciona Beleno em Aquileia. […] Uma divindade gaulesa intimamente associada às fontes termais e às vezes identificada com Apolo é Bormo, Bormanus ou Borvo. O nome significa água fervente, borbulhante ou fervente. Borvo, como Belenus, aparece mais frequentemente sozinho do que associado a Apolo, enfatizando a natureza essencialmente céltica do culto. Ele era popular nos vales do Loire e do Rhône, na Provença, nos Alpes e até na Galícia, no noroeste da Espanha. Importantes locais de culto existiam em Aix-les-Bains e Bourbonne les-Bains. Em Aix, as fontes perto do centro da cidade continham bronzes não de Apolo, mas de Hércules, e a ideia aqui pode ser a invocação do “homem forte” greco-romano como combatente contra doenças. Entre os lingones, a consorte de Apolo era Damona, e em Bourbonne-Lancy uma inscrição a associa ao sono curativo ou à incubação, visto acima em conexão com Grannus. Outra consorte foi Bormana, que aparece com Bormanus em Die (Drôme), mas sozinha em St. Vulbas, um local de fontes termais curativas, o que implica uma dependência menos que total da divindade masculina para sua existência. Encontramos Damona novamente em Alésia, onde ela está presente como consorte de Apolo Moritasgus, o deus celta das águas termais associado ao oppidum do Monte Auxois. Moritagus – seu nome significando massas de água do mar – possuía um grande santuário de cura com banhos, pórticos talvez para sono curativo e um santuário poligonal. Assim como na nascente do sítio do Sena (supra), os numerosos votivos demonstram uma falta de preocupação com altos padrões de realismo artístico – a execução não era tão importante quanto a ideia de reciprocidade – um órgão doente em troca de um saudável – ou de lembrar à divindade qual parte curar. Membros, vísceras, seios e genitais eram oferecidos para cura, e mais uma vez os problemas oculares eram proeminentes. De fato, a descoberta de instrumentos cirúrgicos para catarata sugere a presença de sacerdotes-médicos no sítio. Já vimos que doenças oculares devem ter sido frequentes na Gália; na Grã-Bretanha também havia problemas oculares – já examinamos Lydney – e Wroxeter apresentou evidências evocativas recentes na forma de um par de modelos de olhos de ouro e mais de trinta e cinco representações de olhos recortadas em gesso de parede. […] Vimos a aparente associação entre o simbolismo da água solar e curativa com, por exemplo, Marte Loucetius, e de fato o nome solar de Sulis, em Bath; e novamente em Lydney. Na Gália, a ligação parece ser através do Apolo céltico, que é chamado Belenus ou Grannus Phoebus, e parece que o curandeiro nativo, como o Apolo clássico, possuía funções duplas de cura e solar. Isso não deveria nos surpreender, visto que no sol – uma força vital – fertilidade e cura estão naturalmente associadas ao conceito de regeneração e, além disso, muitas fontes curativas eram quentes. Mas o simbolismo da luz/cura pode ter uma conexão diferente se considerarmos os problemas oculares evidenciados em tantos locais celtas de águas terapêuticas. O caso do deus Vindonnus em Essarois (Côte d’Or) ilustra essa ligação entre um deus da luz clara e um curador de doenças oculares. “Vindonnus” significa claro, brilhante ou branco, e ele é representado como um deus solar radiante. Ele é associado à água, e a ele foram dedicados membros de

madeira e órgãos internos, mas também, significativamente, vários modelos de olhos de bronze.  

GREEN, Miranda A. (ed.). The Celtic World. London: Routledge, 2005: Referências esporádicas a deuses célticos aparecem na literatura do período romano-céltico. Tertuliano (Apologeticus XXIV.7) e Herodiano (História do Império após Marco VIII.3.6) aludem ao culto de Apolo Belenus em Nórico e no norte da Itália, e Ausônio alude a santuários dedicados a Belenus na Aquitânia no século IV EC (Zwicker 1934-6: 105). Grannus é mencionado por Dio Cássio (Historiae LXXVII. 15.5), que fala das tentativas malsucedidas do imperador Caracala de encontrar uma cura para suas aflições físicas nos templos de Grannus, Esculápio e Serápis. Várias fontes fazem referência ao culto de Epona, incluindo Apuleio (Metamorfoses IIl.27) e Minúcio Félix (Otaviano XXVIII.7). 

MAC CANA, Proinsias. Celtic Mythology. New York: Peter Bedrick Books, 1985: “Apolo” gaulês e congêneres. Como o deus clássico com quem é equiparado em fontes galo-romanas e por César, o Apolo gaulês “afasta doenças”. Em particular, ele é a divindade padroeira das fontes termais. Suas dedicatórias são mais numerosas do que o status de seu homólogo romano garantiria, e é óbvio que os deuses assimilados à divindade clássica desfrutavam de um culto extensivo e popular. Pode-se usar o plural aqui com razoável confiança, pois dos quinze ou mais epítetos aplicados a “Apolo” em inscrições gaulesas, há vários que ocorrem com relativa frequência e são evidentemente nomes de divindades distintas. O mais comum deles, Belenus, é atestado — frequentemente sozinho — no antigo reino celta de Noricum, nos Alpes orientais, do qual, segundo Tertuliano, ele era a divindade especial, bem como no norte da Itália e no sul da Gália, e também há vestígios de seu culto na Grã-Bretanha. Lembra o nome irlandês para o Primeiro de Maio, Bealtaine, do qual o segundo elemento, tene, é a palavra para ‘fogo’ e o primeiro, bel, provavelmente significa ‘brilhante, brilhante1. Isso, juntamente com o fato de ser equiparado a Apolo, sugere que Belenus tinha um caráter marcadamente solar. De fato, o mesmo provavelmente se aplica ao Apolo gaulês em geral: sua conexão com fontes termais comprova isso, e um de seus epítetos, Atepomaros, ‘o que possui um grande cavalo, grandes cavalos’, parece conter um simbolismo solar comum. 

STOKES, Whitley (ed.). Three Irish Glossaries; Cormac’s Glossary, O’Davoren’s Glossary and a Glossary to the Calendar of Oengus the Culdee. London: Williams and Norgate, 1862. 

DELAMARRE, Xavier. Dictionnaire de la Langue Gauloise; une approche linguistique du vieux celtique continental. Paris: Errance, 2004: belo-, bello-, “forte, poderoso”. Termos e tema frequente em NP [noms de personne, “nomes pessoais, teo-/antropônimos”]: Belinos, Belinicos, Belisama, Bellus, Bellona, Bello-gnati, Bello rix, Bello-uacus, Bello-uaedius, Bello-uesus, H1 384-95, KGP 147, RDG 28. Os NR [noms de rivière, “nomes de rio, hidrônimos”] Bienne e Biel (Suíça) remontam a *Belenā. A forma Belisama mostra que se relaciona a um superlativo de um tema belo- ou beli-, do qual bello- seria a forma hipocorística. O fato de que Belenos seria, segundo a interpretação romana, o Apolo gaulês, divindade “solar”, levou a que essa designação fosse compreendida como “o luminoso, o brilhante”, cf., p. ex., de Vries 45: “O Apolo gaulês, possui, igualmente, estreitas ligações com o sol; seu epíteto Belenus seria o bastante para indicá-lo”. Faz-se a seguinte interpretação etimológica pelas raízes i.-e. [indo-europeias] imaginárias *gwel– “brilhar” (há um *ĝwelH– “queimar”, nicht ganz sicher [“não muito seguro”] no LIV 151, sânscrito jválati) ou o incerto *bhal: grego

phálos “branco”, armênio bal “palidez”, sânscrito balâkâ “guindaste”, gótico bala “cinzento”, letão báltas, “branco”, eslavo antigo belo id.”, que pressupõem, em todo caso, uma raiz *bhēl– / *bhǝl– [*bheh1l– / *bhh1l-] ou, graças à magia das “laringeais” com metátese *bhelH– (Stübr 120), mas não *bhel-; portanto, a raiz significa de modo constante “branco, cinzento, pálido”, porém não “brilhante”; veja-se o apanhado de Pokorny IEW 118-19. O provençal belé, belet “relâmpago”, FEW 1, 322, não é o bastante para criar-se uma palavra gaulesa. Sem dúvida por causa da geminação, K. H. Schmidt, KGP 147, terá visto em bello- uma forma curta de belatu-, o que me parece muito improvável. Como se deve partir de uma base belo– ou beli-, segundo implicam os derivados Belinos, Belisama, parece-me preferível, por razões estritamente linguísticas, aproximá-la da raiz belo-, “força, forte”: sânscrito bálîyân, “mais forte”, bálisthah “o mais forte” (= balisamo– com a divisão dialetal regular do sufixo do superlativo, Porzig 99), grego beltíōn, béltistos “melhor, mais” (por *belíōn, bélistos), latim dē-bilis “baixo”, eslavo antigo boljiji “maior”, IEW 96, palavra que em geral serve para assegurar a existência do fonema b- em indo-europeu, Mayrhofer Idg. Gramm. I/2, 99. Assim, a designação Belisama deve ser compreendida como “A Muito Poderosa” e não como “A Muito Brilhante”, Belinos “O Senhor do Poder” (Bellona é, entre os Insubrii e os Scordisci, uma deusa da guerra, A. Reinach RC 34 [1913], 255, teônimo latino?) e Bello uesus seria um composto dvandva + ou – “Forte e Bom”. 

DEVOCIONAL PARA BELENOS 

INTRODUÇÃO 

Belenos, o “Senhor do Poder”, é um deus associado à cura, à proteção, à fertilidade e celebrado principalmente na região da Gália Cisalpina, Noricum, Alpes Orientais e Gália Meridional. Este devocional é uma maneira de honrá-lo e buscar sua proteção e bênçãos para nossas vidas. 

PREPARATIVOS 

Local: Escolha um local ao ar livre ou um espaço tranquilo em sua casa. Um altar com elementos da natureza, como pedras, flores e ervas, é ideal. 

Materiais: Velas brancas ou amarelas, incenso de ervas (como alecrim ou sálvia), tigela com água pura, uma imagem ou símbolo de Belenos (pode ser uma representação do Sol ou uma figura masculina forte), flores frescas e uma pequena oferenda (como pão, mel ou leite). 

ABERTURA 

  1. Purificação do Espaço

Acenda o incenso e passe-o ao redor do espaço, visualizando a fumaça purificando o ambiente. Acenda as velas e coloque-as no altar. 

  1. Invocação a Belenos

Segure a tigela de água pura e diga:

Grande Belenos, Senhor do Poder, 

Eu te invoco, vem me iluminar. 

Tua luz solar cura e faz crescer, 

Que tua força em mim possa brilhar. 

Ilumina este espaço com teu ser, 

Purifica com tua essência imensa. 

Belenos, ouve minha prece, olha meu viver, 

Abençoa este lugar com tua presença. 

ORAÇÃO E MEDITAÇÃO 

  1. Oração a Belenos

Coloque as flores no altar e diga: 

Belenos, deus da cura e proteção, 

A ti ofereço flores em verdade. 

Que tua força me dê a salvação, 

Símbolos de vida e fertilidade. 

Protege a mim e aos entes amados, 

Afasta as doenças e traz saúde. 

Que tua luz brilhe em meus dias sagrados, 

E que eu encontre em ti paz e virtude. 

  1. Meditação

Sente-se confortavelmente, feche os olhos e visualize um sol brilhante acima de você, irradiando luz dourada. Imagine essa luz preenchendo seu corpo, trazendo cura e energia. Sinta-se envolvido pela proteção de Belenos. 

RITUAL DE PROTEÇÃO 

  1. Acender os Fogueiros de Belenos

Se possível, acenda duas pequenas fogueiras ou duas velas maiores. Passe as mãos entre as chamas (ou caminhe entre as fogueiras) e diga: 

Assim como os druidas no passado, 

Acendiam fogos purificadores, 

Invoco a proteção de Belenos amado, 

Sobre todos nós, os seus seguidores. 

Que estas chamas afastem todo o mal, 

E tragam saúde e prosperidade. 

Que a luz de Belenos, vital e real, 

Nos guie e proteja com fidelidade.

  1. Bênção com Água

Molhe os dedos na tigela com água e asperja a água ao redor do espaço e sobre você, dizendo: 

Belenos, abençoa esta água com vigor, 

Que ela purifique este lugar sem temor, 

Traga saúde, proteção e o teu favor. 

FECHAMENTO 

  1. Agradecimento a Belenos

Ofereça a pequena oferenda no altar e diga: 

Grande Belenos, te agradeço(emos) com devoção, 

Que tua luz me(nos) guie, proteja com rigor. 

Aceita esta oferenda, expressão de minha(nossa) gratidão, 

Que tua força em mim(nós) permaneça, eterna, sem dissabor. 

  1. Extinção do Fogo

Apague as fogueiras (ou as velas), uma a uma, dizendo: 

A luz de Belenos nunca se apaga, 

Mesmo quando estas chamas se extinguem. 

Que sua presença sempre me(nos) acompanhe, 

Hoje e eternamente, com seu amparo. 

  • REFLEXÃO FINAL 

Passe alguns momentos em silêncio, refletindo sobre a conexão com Belenos e as bênçãos recebidas. Termine o devocional com uma expressão pessoal de gratidão. 

Este devocional pode ser adaptado conforme necessário, incluindo outros elementos que você considere apropriados para honrar Belenos e suas qualidades de cura, proteção e poder.