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Blodeuwedd

As lendas e mitos que permeiam o povo chamado de celta, na verdade um conglomerado de tribos com algumas peculiaridades e crenças em comum, sempre nos trazem muita magia, amor, traições, maldições, busca por verdade e soberania de cada personagem, seja ele humano, deus ou mesmo criatura mágica.

Essas lendas e mitos buscavam explicar o modo de vida e como seus deuses eram próximos e, mesmo sendo homenageados e cultuados, eram capazes de erros, acertos e sentimentos profundos como amor e ódio. Muitas delas se entrelaçam, pois são a história do povo celta e se fazem presentes em várias tribos; outras são típicas de uma região. Seja pela transcrição dos monges, que cristianizaram alguns mitos, ou por pesquisas dos primeiros historiadores, ainda no século XIX.

A lenda galesa de Blodeuwedd é também a história da luta de Llew por sua soberania, a qual foi dificultada pela Deusa Arianrhod, que fez o máximo para não reconhecer Llew, seu filho, e impedir que ele pudesse reclamar seu direito por nascimento, devido à vergonha que foi trazida a Ela por seu teste.

Arianrhod teve sua soberania violada e então seu filho não teria nome, a menos que ela lhe desse; não receberia armas, a menos que ela lhe fornecesse; e nunca se casaria com uma mulher mortal. Além disso, ele não seria rei sem seus auspícios.

Então, ele recebeu alguns dons mágicos do seu tio para que pudesse receber seu título, de modo a evitar sua morte, a menos que houvesse circunstâncias especiais e absurdas. Tais como: que ele não poderia ser morto dentro de um ambiente ou em área externa; a pé ou a cavalo; e a lança que poderia matá-lo deveria ser forjada em um período de tempo sagrado.

Por meio de alguns truques mágicos, Arianrhod foi ludibriada a dar nome e entregar armas a seu filho, Llew, mas a questão da esposa, que poderia lhe garantir o título de nobreza, foi resolvida com a magia de seus tios Math e Gwydion, que criaram Blodeuwedd a partir das flores do Carvalho, Giesta (um arbusto) e da Erva Ulmeira (uma planta medicinal).

Blodeuwedd – Christopher Williams (1930)

Seu nome significa “Rosto de Flor”, é o nome antigo dado às corujas e significa “a Terra em seu florescer pleno”. Com o casamento dela com Llew, este conseguiu suas terras e sua soberania foi alcançada.

Conta a lenda que, um dia, Llew saiu para caçar, deixando sua esposa com suas damas em seu castelo. Um jovem caçador, Gronw, mais tarde pediu abrigo a ela; então Gronw e Blodeuwedd acabaram se apaixonando à primeira vista.

Blodeuwedd encontra Gronw.

Não querendo ficar mais separados, Gronw persuadiu Blodeuwedd a descobrir as circunstâncias improváveis que teriam que acontecer para causar a morte de Llew, ajudando-o assim a consegui-la. Com o plano feito, Gronw se separa de Blodeuwedd e assim permanecem por um longo período, no qual ela finge ansiedade pela morte de Llew.

Eventualmente, o pedido dela faz com que Llew demonstrasse tais circunstâncias, de modo a diminuir seus medos, ao mostrar a ela que sua morte não seria facilmente conseguida. Eles prepararam um banho em uma ribanceira do rio, cobrindo-a com um telhado de palha, sendo dessa forma nem dentro e nem fora. Com Llew ficando com um pé sobre um tubo e outro sobre um bode, Gronw atira uma lança especialmente feita, atingindo Llew na lateral do corpo.

Llew imediatamente se transforma em uma águia e levanta voo, mais tarde sendo descoberto e curado por seus tios, Math e Gwydion. Quando os dois amantes são encontrados, Gronw é morto e Blodeuwedd é transformada em uma coruja.

Aspectos da deusa Blodeuwedd

Devido às circunstâncias de seu nascimento, as ações de Blodeuwedd podem ser vistas sob uma luz mais empática. Ela foi criada das flores de uma árvore muito poderosa – o Carvalho – e das flores de uma natureza explicitamente curadora, de modo a dar poder a Llew e para ser capaz de continuamente curá-lo e renová-lo. Ela nunca foi consultada se o amava ou desejava casar-se com ele. Foi criada com um propósito, apenas para assegurar o direito dele de ser soberano daquela terra. Os desejos de Blodeuwedd eram impossíveis de serem alcançados enquanto Llew vivesse, e ela é vista como o epíteto de feminilidade não assertiva, inconstância e esposa infiel, que usa a paixão de dois homens para selar seu destino e o de ambos.

Na verdade, sua suposta traição cria as condições ideais para permitir a Llew a experiência da morte ritual e renascimento requeridos para o sacerdócio druídico, além de assegurar sua realeza. Blodeuwedd é apenas uma parte deste destino difícil.

Através das lendas celtas, mulheres sobrenaturais são criadas e utilizadas para representar a Terra, que é definitivamente feminina em sua natureza. A Coruja, a representação totêmica de Blodeuwedd, significa a completa transformação do iniciado, como representado pela morte virtual e subsequente cura de Llew. Ela é representada pela carta da Imperatriz do Tarot. É a Deusa das emoções, representando a matriz que reforma as energias transpessoais e universais como bem definida força vital. Ela também é a Deusa das iniciações cerimoniais e é conhecida como a Deusa Nona das Flores do Paraíso das Ilhas do Oeste, a sabedoria da inocência, Mistérios Lunares e iniciadora de suas províncias.

Blodeuwedd – Deusa do Amanhecer

“Nove poderes de nove flores,
Nove poderes em mim combinados,
Nove botões de plantas e árvores;
Longos e brancos são os meus dedos,
Como a nona onda do mar.”

Blodeuwedd é reverenciada como a Deusa dos novos começos e da capacidade de renovação. Sua história pode ser encontrada no Mabinogion, em Math, filho de Mathonwy, que diz que ela foi feita a partir de nove tipos de flores silvestres, por Math e Gwydion, para ser a esposa de Llew (filho de Arianrhod).

Existe muito mais nessa história do que os olhos comuns podem ver… O nome Blodeuwedd, literalmente, significa “Rosto de Flor” e representa, muitas vezes, um lírio branco. É a esperança que nasce no meio da dificuldade. Ela é a Deusa de um novo amanhecer e da primavera nos mitos galeses. Associada à visão noturna das corujas, às fadas escuras e aos mistérios do Outro Mundo.

Rituais a Blodeuwedd, como prestar culto e como os atributos da Deusa fazem parte da nossa vida:

Minha vivência com a Deusa Blodeuwedd é limitada, mas como representação de sabedoria e de novos começos, podemos e devemos trabalhar tanto a impulsividade como a capacidade de busca e de transformação dela.

Muitos podem achar que a figura era tola, pois deixou o coração falar mais alto e traiu e tentou matar Llew. Mas o fato de ter sido criada para ser esposa de Llew tirou-lhe a liberdade de escolha e a forçou a uma vida sem que sua vontade fosse levada em conta.

Minha experiência sugere utilizar a força mágica de Blodeuwedd para recomeços, melhorar nossa capacidade de escolhas e busca de soberania pessoal, já que estes últimos atributos foram negados a ela.

Material:
01 vela preta ou branca
01 imagem da Deusa Blodeuwedd ou de uma coruja (para ajudar no foco)
Incenso floral ou de alfazema
Flores variadas 

Se quiser consagrar um amuleto no ritual, sugiro uma pedra da lua ou uma selenita
Pode usar também um chá de alfazema e artemísia para ajudar no processo de transe, ou se banhar antes do ritual com lírio, jasmim, alfazema e artemísia
Pode usar uma roupa branca, preta ou cor de alfazema (lilás e roxo)

Se possível, realize o ritual/vivência na fase negra da lua para amplificar, já que a Deusa se relaciona com a transformação e a fase escura da lua.

Sente-se confortavelmente, tente se desligar do mundo cotidiano, respire profundamente por 3 vezes: uma com a terra sob seus pés, a segunda com o mar ao seu redor e a última com o céu sobre sua cabeça.

Coloque as flores, a vela e a pedra (se for consagrar) na sua frente, tendo também a imagem; acenda a vela e o incenso, deixando o aroma deste te envolver.

Olhe para a vela, focando sua mente tanto na chama como no seu propósito. Se sentir que precisa, diga o propósito em voz alta.

Imagine-se no seu porto seguro, ou seja, naquele local onde você sente o Outro Mundo, o seu Nemeton pessoal. Este é o início da sua jornada.

Você verá um caminho subindo para um platô, cercado de flores, com um terreno suave sob seus pés. Você sente o aroma suave de flores, vê borboletas e ouve pássaros livres. Ao chegar no platô, verá um canteiro de flores com arbustos no centro dessa clareira. Você se senta próximo e, quando olha de novo, observa uma coruja numa árvore próxima. Ela te olha e pousa no chão, transformando-se numa linda mulher com um rosto delicado como pétalas de flores e um vestido verde-claro, que se mescla à vegetação daquele canteiro.

Ela te acolhe, vocês conversam e você pode perguntar sua intenção diretamente a ela. Converse, busque seu caminho, quando estiver satisfeito, agradeça, deixe o local com respeito e veja-a voltar a ser coruja. Volte ao seu Nemeton e, lentamente, retorne à consciência do cotidiano. Recomendo também manter a vela acesa até que se apague.

Se quiser manter um contato frequente, mantenha um espaço em casa com a imagem dela, água, flores e uma vela.

Sheilla “Sealladh a’Mhathain” Uberti – Vate do Caer Itaobi

Fontes:
https://druidry.org/resources/blodeuwedd
https://eryri.gov.wales/discover/history-and-heritage/mythology-and-folklore/blodeuwedd/
https://templodeavalon.com.br/avalon-e-as-deusas-celtas/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Blodeuwedd
https://aminoapps.com/c/wiccaebruxaria/page/blog/deusas-celtas-de-cada-signo