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CELEBRANDO MONUMENTOS E SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS: Ancestralidade, Identidade, Território e o Espírito.

O Conselho Internacional dos Monumentos e sítios (Icomos) escolheu a data de 18 de abril para celebrar o Patrimônio Cultural e os Sítios Arqueológicos a nível internacional. Esta data quer refletir sobre a importância de proteger monumentos e sítios arqueológicos pelo globo como expressões de memórias coletivas e territórios identitários. A proteção dos sítios e monumentos se faz urgente na contemporaneidade; considerando o pouco valor que as sociedades atuais não têm dado a estes patrimônios culturais.

Patrimônios da Humanidade que ficam no Brasil

O descarte de qualquer memória social, segundo Bauman (sociólogo e filósofo) produz uma visão de mundo reducionista, pois a realidade não nasce sem raízes, e as conjunturas se configuram através de processos históricos. O mundo não nasceu hoje. Embora possamos fantasiar que somos o “omphalus mundi”; houve história antes de nós. E por incrível que possa parecer o mundo não acabará com nossa morte. Continuará!

A resistência ao cultivo da memória social, nomeada por alguns psicanalistas sociais como “Alzheimer Coletivo” produz sociedades sem perspectivas de construção de projetos emancipatórios, transformando-se em massa autômata. No entanto, nossa espécie, desde os mais antigos registros arqueológicos pesquisados, demonstrava cuidados com a memória coletiva: sepultando seus mortos num contexto de práticas rituais que expressariam possíveis significados com as dinâmicas temporais do passado e futuro.

O Passado reconhecido como movimento constante, onde a vida se constrói, através da ancestralidade cuja inspiração amplia a perspectiva de enfrentamento do presente e do futuro com mais qualidade e autonomia.

A valorização da Ancestralidade sempre esteve presente junto aos povos antigos e originários. Diversas narrativas sagradas sempre compreenderam que determinado grupo não foi capaz de explicar-se por sim mesmo no contexto do presente sem referência a um passado histórico e uma linhagem mítica.

Os grupos sociais sempre se compreenderam como resultado de processos complexos de heranças ancestrais, experiências comprovadas e incentivo à criatividade diante a luta da sobrevivência.

Este olhar de acolhimento às “experiências dos antigos” nutria perspectivas de pertencimento e identidades. A ancestralidade está intimamente ligada a construção de identidades coletivas. Sabendo-se de qual raiz pertenço, posso dinamizar as potencialidades e talentos. A “Ancestralidade-Identidade” como consciência coletiva incorpora no contexto da sedentarizarão a categoria de “Território Sagrado”.; embora as pesquisas atuais têm demonstrado que os “lugares identitários” sempre existiram no contexto dos coletores e caçadores.

O trinômio: Ancestralidade-Identidade-Território são a base das sociedades ecocentradas como força de sentido criativa para a construção da vida.

É nesta perspectiva que devemos compreender e colaborar, com a luta das sociedades originárias no Brasil, referentes as questões do marco temporal; onde tentativas de redução de território desconstroem herança ancestrais e identidades territoriais.

Preservar o passado, não é considerar um tempo perdido, onde se fantasia ter havido uma “era de ouro da humanidade”; cujo retorno ansiamos como volta ao “útero seguro”.

A preservação das memórias coletivas é o reconhecimento da dinâmica da própria natureza das coisas e da vida. Tudo se transforma através de múltiplos e complexos processos de existência. Nada se apresenta como pronto, definitivo e acabado. A pulsão do vir-a-ser está presente em todas as existências, desde as grandes galáxias até as diminutas dimensões da física quântica.

A partir destas considerações qual seria, na pós-modernidade, a importância de se preservar o passado no contexto de proteção dos monumentos e sítios arqueológicos?

Poderíamos dizer que um “olhar para o passado” e sua preservação poderia capacitarnos a construir melhores maneiras de compreensão crítica do presente, permitindo enfrentar com maior profundidade os desafios que se apresentam e com melhores possibilidades de construção de projetos futuros. Neste sentido os sítios arqueológicos e monumentos são considerados como “documentos” importantes para a construção de conhecimento histórico e reconhecimento de nossas identidades.

O Brasil possui inúmeros sítios arqueológicos de importância fundamental que nos ajudam a compreender nossas raízes, a aprofundar questões sobre os processos de ocupação das Américas. Possuímos um dos maiores acervos de Pinturas Rupestre do planeta, em São Raimundo Nonato, sudeste do estado do Piaui.

Parque Nacional Serra da Capivara

Os sítios e os monumentos, são patrimônio nacional, e expressam ancestralidadeidentidades e territórios culturais importantes para a compreensão da história de nosso território antes de existir a idéia de Brasil.

Ao trinômio Ancestralidade-Identidade-Território, uma nova categoria, a partir dos olhares de espiritualidades ecocentradas, poderia ser incluído: o “Espírito”.

Muitas tradições dos druidismos contemporâneos têm resgatado o conceito de ser-estarno mundo, através de uma experiência Animista. Esta percepção confere a possibilidade de diálogo com todas as coisas existentes. Pois tudo está pleno de história, identidade e lugar de expressão.

Todas as coisas são manifestações ontológica da “alma mundi”, a complexa biodiversidade da vida singularizada pelas diversas expressões dos seres, com suas histórias que construíram identidades e ocuparam lugares sagrados plenos de espírito são um constante convite a comunhão e diálogo fecundo.

Preservar sítios arqueológicos e monumentos, numa perspectiva do Espírito é reconhecer primeiramente que tudo tem “alma” lugares, espaços, territórios, histórias. Somos filhos do processo da história: muitos vieram antes de nós! E que estás realidades além dos estudos acadêmicos que se realizam, nos convidam para uma outra dinâmica de conhecimento, da comunhão poética, da experiência de participação existencial na fecunda diversidade da Vida que existe no Planeta.

Amergin nos ajuda com sua poesia compreender esta comunhão espiritual do ser:

“Eu sou o vento sobre o mar”.

O sopro, o vento, em diversas tradições é sinônimo do Espírito, e o mar é o olhar do horizonte mais ampliado. Assim o sopro do Espírito está em todos os lugares. Dentro e fora nos convocando ao diálogo e comunhão com Ancestralidade, Identidade, Territórios e Espírito.

 

Marcelo CuChulain
Druida pertencente ao Clã da Figueira Branca
Delegado da Clareira Plinia Cauliflora no CBDRC